Crack: “Não dá trégua às crianças”

Os efeitos devastadores do crack não dão trégua nem aos recém-nascidos. Os filhos de pais dependentes de uma das drogas mais destruidoras que existem ficam entregues à própria sorte. Alguns se veem sob a tutela de alguém da família, outros acabam sendo encaminhados para abrigos e até para a adoção. No Paraná, segundo dados divulgados pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), existem quase três mil crianças em 131 abrigos. A estimativa é de que mais de 50% destas crianças sejam filhos de pais dependentes químicos.

Ela também informou que já foi instaurado um inquérito civil público para apurar as deficiências no atendimento aos dependentes químicos objetivando melhorar o sistema. “O inquérito tem como objetivo ampliar a rede de atendimento pública aos usuários de crack, garantindo assistência e resgate dos usuários de crack em situação de rua, no âmbito da rede de saúde mental. Também na assistência integral no tratamento aos dependentes, com unidades de saúde especializadas, recursos humanos, assistência farmacêutica, atividades terapêuticas e práticas integrativas de promoção à saúde”, declarou, ressaltando que o dependente químico tem os mesmos direitos de atendimento previstos na Lei nº 10.216/01 que trata da saúde mental, com prioridade para o atendimento extra-hospitalar.

Herança trágica

Enquanto projetos sobre o assunto são analisados, as crianças sentem de perto a dura realidade provocada pelo vício nas drogas. A herança de uma família desestabilizada pelo crack pode culminar em um final trágico. Na Casa do Acolhimento Pequeno Cidadão, localizado no Jardim Social, em Curitiba, dois recém-nascidos morreram recentemente pelo fato de as mães terem feito uso do crack durante a gestação. Ambos nasceram com hidrocefalia (água no cérebro), ficaram um mês internados em unidades de terapia intensiva e, posteriormente, foram encaminhados à instituição.
Apesar dos esforços no tratamento, um morreu após 70 dias de vida e outro depois de 94 dias. “Estes foram os casos mais graves provocados pelo crack que recebemos”, afirma a diretora do abrigo, Sônia Scutlarek Ferreira.

Por outro lado, há crianças que, apesar de sofrerem com os efeitos colaterais do entorpecente – mesmo sem nunca o ter utilizado –, conseguem a duras penas reverter o processo. Um bebê de um ano e nove meses, que ingressou no abrigo em estado grave, já está sob tutela temporária de uma funcionária da própria instituição. O processo de adoção se encontra em andamento.

Atendimento

Sônia explica que ao receber um bebê, cuja mãe é dependente química, é necessário realizar um tratamento médico específico. “A gente leva para unidades de saúde e hospitais para que o atendimento aconteça”, explica. Os pais, cujas crianças estão abrigadas por determinação judicial, podem visitar os filhos todo domingo. Segundo a diretora do abrigo, a maioria das mães, que deram à luz a estas crianças, encontra-se internadas para livrar-se da droga.“A grande maioria tem chance de voltar à guarda da mãe depois que o tratamento for concluído. Claro que, para isso, é realizado um monitoramento de como está a situação da família e como a criança está sendo tratada”, explica Sônia.

Além de atender filhos de dependentes químicos, a instituição também abriga crianças até 12 anos que sofreram abusos sexuais ou foram abandonadas pela família por outras razões. Curitiba possui oito instituições ligadas à Fundação de Ação Social (FAS) que realizam trabalho semelhante.

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